domingo, 16 de setembro de 2012

Desgraça - J.M. Coetzee

Não posso esquecer este dia, pensa ele, deitado ao lado dela, os dois extenuados. Depois da carne jovem e doce de Melanie Isaacs, é a isto que eu venho parar. É a isto que tenho de começar a habituar-me, a isto e a pior.

sábado, 8 de setembro de 2012

As touradas (por J.M. Coetzee)

"A tourada, parece-me, dá-nos uma pista. Matem o animal à vontade, dizem eles, mas transformem isso numa competição, num ritual, e louvem a força e a coragem do adversário. Comam-no também, depois de o vencerem, para absorverem essa força e essa coragem. Olhem-no nos olhos antes de o matar e, depois, agradeçam-lhe. Celebrem-no em canções.
Chamamos a isto primitivismo. Esta atitude é fácil de criticar, de censurar. É profundamente masculina, viril. Desconfiamos das suas ramificações politicas, mas, depois de tudo dito e feito, há uma certa atração que permanece a um nivel ético.
Contudo, também é inviável. Os esforços dos matadores ou dos caçadores de veados, armados de arcos e setas, não dão para alimentar quatro mil milhoes de pessoas. Já somos muitos. Já não há tempo para respeitar nem para louvar todos os animais necessários à nossa alimentação. Precisamos de fábricas de morte; precisamos de unidades de criação de gado. Chicago mostrou-nos o que devia ser feito; foi com os currais de animais de abate de Chicago que os Nazis aprenderam a processar os corpos."

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A leitura para os africanos por J.M. Coetzee



... "A leitura não é um entretenimento tipicamente africano. A música sim; a dança sim; a comida sim; a fala sim ... e abundante. Mas a leitura não, e especialmente a leitura de grandes romances. A leitura sempre foi considerada por nós, africanos, como algo de estranhamente solitário. Faz-nos sentir incomodados. Quando nós, africanos, visitamos as grandes cidades europeias, como Paris ou Londres, reparamos como as pessoas, nos comboios, tiram das sacas ou dos bolsos livros e se retiram para mundos solitários. Sempre que aparece um livro é como se erguessem um aviso: Deixem-me em paz, estou a ler. O que estou a ler é mais interessante do que vocês.
Bem, em África, não somos assim. Não gostamos de nos isolar dos outros para nos retirarmos para mundos só nossos. A África é um continente onde as pessoas gostam de partilhar coisas. Ler um livro sozinho, não é partilhar. É como comer sozinho ou falar sozinho. Não somos  assim. Achamos que é um bocado tonto." ...

Citando Emmanuel Egudu